Estamos no mês do Setembro Amarelo, que é o mês de prevenção ao suicídio e salvar vidas. O tema “suicídio” é delicado, mas quando as pessoas buscam o tratamento adequado, muitos suicídios podem ser evitados. Porque ninguém está só!
Com o objetivo de abordar o assunto, estimular o diálogo e reflexão acerca da saúde mental, o blog ValériaeVocê, procurou o psicólogo que atende no Posto de Saúde Fernando da Veiga Pessoa.
E apresenta uma entrevista com Dr. Robespierre de Lima Garcês, (Dr. Pierre Garcês), Psicólogo, Psicanalista pela Escola Brasileira de Psicanálise, Especialista em Saúde Mental e Atenção Psicossocial pela Estácio de Sá do Rio de Janeiro, Formação de 1.100 horas em Educação Especial pela FAT (Faculdade de Tecnologia de Alagoas). Atualmente Pós-graduando em psicanálise contemporânea pela PUC-Minas, sobre prevenção ao suicídio, cuidado à saúde mental e sobre qual a melhor forma de se prevenir do adoecimento mental. Acompanhe e compartilhe.
ValeriaeVoce: Qual o propósito da Campanha de setembro Amarelo?
Dr. Pierre Garcês: O principal objetivo da campanha Setembro Amarelo é a conscientização sobre a prevenção do suicídio, buscando alertar a população a respeito da realidade da prática no Brasil e no mundo. Durante todo o mês de setembro existe uma dedicação à prevenção ao suicídio que começou no Brasil em 2015 e nos Estados Unidos desde 1994. Apesar de trabalhar na clínica com a singularidade (quero dizer com cada sujeito individualmente) tanto no Posto de Saúde Fernando da Veiga Pessoa como em meu consultório particular, acho importante a discussão sobre o tema como campanhas para informação, tanto no setor público como no setor privado. Particularmente acredito que os índices de suicídios devem ser maiores do que aqueles que são anunciados pelos órgãos de pesquisa como Organização Mundial de Saúde (OMS), etc. O exemplo está no atendimento individual: de cada 15 pessoas que atendo por dia, tanto no Posto de saúde como em meu consultório particular, 4 têm ideações suicidas o que significa que uma representação mental que pensa e planeja tirar a própria vida só pode ser entendida e evitada no manejo clínico individual. Para a Psicologia de base psicanalítica todo o comportamento é influenciado a partir do inconsciente. Tirar a própria vida para o suicida é na verdade cessar a dor de existir.
ValeriaeVoce: O que ela promove?
Dr. Pierre Garcês: Todos os seres humanos possuem Pulsão de Vida e Pulsão de Morte e é na Pulsão de Morte que fatores inconscientes vêm à tona dependendo onde o sujeito está inserido. Sendo esse inserimento psicossocial, cultural, religioso etc., os fatores inconscientes aumentam sua força elevando assim os mecanismos autodestrutivos. Portanto, a campanha além de levar informação, deve incentivar o sujeito a buscar ajuda do profissional de psicologia que atua nos serviços de apoio de saúde mental.
ValeriaeVoce: Setembro Amarelo é tempo de repensar a vida?
R. Não. Na verdade, repensamos a vida a cada momento porque somos bombardeados de forma constante pelas forças do mundo exterior que se colidem com as questões inconscientes. O setembro amarelo foi criado para alertar no consciente de cada sujeito aquilo que está a muito tempo no inconsciente: a angústia de viver. Viver é angustiante porque a única certeza que temos é a morte. E passamos a vida toda lutando contra esse real que é a morte. O suicídio é a desistência dessa luta.
ValeriaeVoce: Uma tentativa que não deu certo é um importante sinal de alerta e, ainda, a chance de fazer algo?
Dr. Pierre Garcês: Minha experiência clínica diz que sim. Porém, o sujeito deve ser atendido em sua singularidade (individualmente) porque os fatores da tentativa vão depender de cada sujeito. Existe em cada sujeito um caminho diferenciado que chamamos em Psicanálise: trauma, dor e ato. Se esse processo falhou é hora de ser atendido imediatamente pelo profissional. A partir da metapsicologia psicanalítica nomeia-se a tentativa de suicídio como um ato-dor.
Freud em 1901 no texto Sobre a Psicopatologia da vida cotidiana, fala que alguns suicídios são Atos Falhos, quer dizer involuntários que podem levar o sujeito à morte dando a ideia de acidente. Uma fantasia na verdade que leva depois ao arrependimento. Nessa tentativa que não deu certo é justamente a hora de ser atendido pelo profissional competente.
ValeriaeVoce: A Pandemia agravou o cenário?
Veja, o suicídio é um fenômeno complexo e multifatorial. Não acho que a pandemia agravou no sentido de ser ela diretamente o motivo maior do número de suicídios. A pandemia apenas dificultou a relação do sujeito com o social. Medo, isolamento, transtornos como Obsessivo Compulsivo, comportamentos autolesivos etc., isso sim. A pandemia potencializou o sofrimento de todos.
ValeriaeVoce: O que as pessoas podem fazer para ajudar?
Dr. Pierre Garcês: Dialogar sem preconceitos, incentivando a pessoa a procurar ajuda do profissional. Estar sempre em atenção a alguns comportamentos diferentes do dia-dia. Se a pessoa estiver em perigo imediato não a deixe sozinha. Os familiares podem e devem falar do assunto. Conversar sobre o desejo de morrer não induz ao suicídio por isso dever se falar. A fala possibilita uma referência de acolhimento e uma atenção que o sujeito não tinha antes.
ValeriaeVoce: O que é errado fazer ou falar?
Dr. Pierre Garcês: Não há uma “receita” para detectar seguramente uma crise suicida, até porque nem todo suicida por exemplo passa pela depressão. Acho reducionismo pensar assim. Perder o sentido da vida não precisa passar pela depressão. Depressão em psicanálise não é uma doença, mas um estado. Sinal de que algo não vai bem em seu psíquico. Por outro lado, se uma pessoa muda radicalmente sua fala diante do social, e seu comportamento não passa a ser mais o mesmo que do cotidiano, deve-se observar e fazer um acolhimento através do diálogo.
ValeriaeVoce: 8. Quais sinais que devem ser observados em alguém com dores ou problemas mal curados?
Dr. Pierre Garcês: O próprio comportamento da pessoa diante dos obstáculos comuns do dia-dia já demonstra que a pessoa precisa de ajuda. A dor faz parte da vida. E qualquer dor pode ser suportada e superada. Como o sujeito se posiciona diante dela é o fator mais importante.
ValeriaeVoce: O senhor fala muito em manejo na clínica sobre o suicídio, poderia me explicar com mais detalhes?
Dr. Pierre Garcês: Falar de manejo é falar do modo peculiar do psicanalista diante de várias situações na clínica. Na situação do suicídio o psicanalista deve entender que a ideação suicida é apenas a ponta do Iceberg de uma série de comportamentos e fantasias que abarcam assim uma pulsão instinto-afetiva. Freud (1915) afirmou que é difícil pensar na própria morte. Então quando sujeito chegar à ideação é sinal de que as coisas não vão bem. Então no manejo da clínica ao acessar conteúdos inconscientes por meio da fala, que poderão dar uma ressignificação, o paciente transformará seu sintoma em outra coisa. E em psicanálise damos o nome dessa outra coisa de Sinthome que é sintoma em francês. Na clínica psicanalítica não é o objetivo arrancar o sintoma causador e sim transformá-lo.
ValeriaeVoce: O senhor falou que nem todo suicida é depressivo. Como se explica isso?
Dr. Pierre Garcês: Para viver é necessária uma razão de viver e esta razão vem de dentro, não de fora. Depressão lida com a falta ou ameaça de perda de Objeto amado. Algo que o sujeito perdeu e sabe da sua importância. O trabalho, um amor, um ente querido etc. Mas, isso para todos nós pode ser suportável ou não. A depressão causa desamparo. Mas isso para muitos não pode ser motivo de suicídio. Na Melancolia não existe um motivo para sofrer. Quer dizer não existe um objeto amado que se perdeu. O sujeito sofre, mas não sabe por que sofre. Então, algumas áreas da saúde não sabem essa diferença entre depressão e melancolia. Na melancolia sim, o risco de suicídio é bem maior. Freud (1915) explica muito bem em seu livro Luto e Melancolia onde Luto significa Depressão.
Veja na clínica no atendimento singular ouvimos muito esta fala: “Estou sofrendo muito, mas não sei por quê. Existe um vazio que não consigo explicar”. Uma frase bem caracterizada de Melancolia que pode levar o sujeito ao suicídio.
ValeriaeVoce: Para finalizar, é possível prever o suicídio?
Dr. Pierre Garcês: Não há como prevê quem cometerá suicídio, porém podemos fazer uma avaliação desde que o paciente se apresente ao tratamento. Lembrando-se que todas as estruturas psíquicas como neurose, psicose e perversão podem apresentar pacientes diferenciados e comportamentos extremamente diferentes para o suicídio. No entanto a ideação suicida quando verbalizada no social é um caminho que pode levar prevenção. Por isso a importância da escuta no social quando alguém fala sobre morte no sentido de tirar a própria vida. A ideação suicida, segundo Lester(1989), aparece como uma prevenção primária para o suicídio.
ValeriaeVoce: Onde encontrar Dr. Pierre Garcês?
Dr. Pierre Garcês:
- No Centro de Saúde Fernando da Veiga Pessoa – Posto 1, nas segundas e quintas feiras.
- Em meu consultório particular: Rua Grazielle de Carvalho, 211 – Casa 20 – Plaza Residencial – Loteamento Santana Cel.: (81) 7116-0500
Robespierre de Lima Garcês (Pierre Garcês) CRP – 02/24533
Publicidade